“Uma em cada quatro mulheres brasileiras que deram a luz em hospitais públicos ou privados relatam algum tipo de agressão durante o parto”.É o que aponta a pesquisa de Mulheres Brasileiras nos Espaços Público e Privado, feita pela Fundação Perseu Abramo em parceria com o SESC, em 2011.
É triste saber que casos de violência obstétrica ainda ocorrem nos dias atuais. A violência obstétrica não é só a questão física, mas também a violência verbal que vai além de atos desrespeitosos contra a mulher, desde piadinhas e comentários maldosos e intervenções médicas feitas contra vontade da mãe durante o parto.
O meu parto foi como sonhei, recebi um tratamento digno, desde o meu cadastro no hospital, o profissionalismo de toda equipe médica, o carinho das enfermeiras, até a despedida da maternidade. No entanto não é assim com todo mundo, e essa história de violência no parto não é recente. Minha mãe teve dois partos normais e passou os dois sofrendo calada por medo de sofrer represálias das enfermeiras. Ele ouvia historias de mulheres que ao gritarem de dor eram ignoradas pelas enfermeiras e mal tratadas.
Casos assim como o da minha mãe ainda se repete, um caso recente foi de uma colega que conheci em um passeio de final de semana que me contou como foi traumático o parto de sua segunda filha. Fiquei chocada com todas as humilhações que essa colega passou, nunca pensei que isso ainda podia existir. Infelizmente, ainda acontece.
E para contar as histórias dessas mulheres a fotógrafa Carla Raiter que teve um parto respeitoso junto com a produtora cultural Caroline Ferreira, criaram o Projeto 1:4 Retratos da Violência Obstétrica. Ambas acreditam que lutar contra a violência obstétrica é o primeiro passo para uma mudança de cultura em direção à humanização do parto e para que todas as mulheres, de todas as classes, tenham o direito de serem respeitadas durante o nascimento de seus filhos.
O intuito não é discutir sobre é o tipo do nascimento normal ou não, o que esta em pauta é a forma que é conduzido o parto, o desrespeito físico e verbal contra a mulher e o bebê.
São atos de violência obstétrica:
- Impedir que a mulher seja acompanhada por alguém de sua preferência, familiar ou de seu círculo social.
- Tratar uma mulher em trabalho de parto de forma agressiva, não empática, grosseira, zombeteira ou de qualquer forma que a faça se sentir mal pelo tratamento recebido.
- Tratar a mulher de forma inferior, dando-lhe comandos e nomes infantilizados e diminutivos, tratando-a como incapaz.
- Submeter a mulher a procedimentos dolorosos desnecessários ou humilhantes, como lavagem intestinal, raspagem de pelos pubianos, posição ginecológica com portas abertas.
- Impedir a mulher de se comunicar com o “mundo exterior”, tirando-lhe a liberdade de telefonar, usar celular, caminhar até a sala de espera etc.
- Fazer graça ou recriminar por qualquer característica ou ato físico como, por exemplo, obesidade, pelos, estrias, evacuação etc.
- Fazer graça ou recriminar por qualquer comportamento como gritar, chorar, ter medo, vergonha etc.
- Dar bronca, ameaçar, chantagear ou cometer assédio moral com qualquer mulher/casal por qualquer decisão que ela possa ter tomado, quando essa decisão for contra as crenças, fé ou valores morais de qualquer pessoa da equipe, por exemplo: não ter feito ou ter feito inadequadamente o pré natal, ter muitos filhos, ser mãe jovem (ou o contrário), ter tido ou tentado um parto em casa, ter tido ou tentado um parto desassistido, ter tentado ou ter efetuado um aborto, ter atrasado a ida ao hospital, não ter informado qualquer dado, seja intencional, seja involuntariamente.
- Fazer qualquer procedimento sem explicar antes o que é, por que está sendo oferecido e, acima de tudo, SEM PEDIR PERMISSÃO.
- Submeter a mulher a mais de um exame de toque (ainda assim quando estritamente necessário), especialmente por mais de um profissional, e sem o consentimento, mesmo que para ensino e treinamento de alunos.
- Dar hormônios para tornar mais rápido e intenso um trabalho de parto que está evoluindo normalmente.
- Cortar a vagina (episiotomia) da mulher quando não há necessidade (discute-se a real necessidade em mais que 5 a 10% dos partos).
- Dar um ponto na sutura final da vagina de forma a deixá-la menor e mais apertada para aumentar o prazer do cônjuge (“ponto do marido”).
- Subir na barriga da mulher para expulsar o feto (manobra de Kristeler).
- Submeter a mulher e/ou o bebê a procedimentos feitos exclusivamente para treinar estudantes e residentes.
- Permitir a entrada de pessoas estranhas ao atendimento para “ver o parto”, quer sejam estudantes, residentes ou profissionais de saúde, principalmente sem o consentimento prévio da mulher e de seu acompanhante com a chance clara e justa de dizer não.
- Fazer uma mulher acreditar que precisa de uma cesariana quando ela não precisa, utilizando de riscos imaginários ou hipotéticos não comprovados (o bebê é grande, a bacia é pequena, o cordão está enrolado).
- Submeter uma mulher a uma cesariana desnecessária, sem a devida explicação dos riscos que ela e seu bebê estão correndo (complicações da cesárea, da gravidez subsequente, risco de prematuridade do bebê, complicações a médio e longo prazo para mãe e bebê).
- Submeter bebês saudáveis à aspiração de rotina, injeções e procedimentos na primeira hora de vida, antes que tenham sido colocados em contato pele a pele e de terem tido a chance de mamar.
- Separar bebês saudáveis de suas mães sem necessidade clínica.
Se você, mulher, foi submetida a qualquer um desses atos de violência, denuncie. Não permita que a violência se perpetue. Será necessário que milhares de mulheres se ergam e digam basta, até que as mulheres parem de sofrer. O parto é um momento de alegria, de prazer. A dor fisiológica é suportável. Mas a dor da violência, essa pode se tornar insuportável e deixar profundas marcas.
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